30 outubro 2009

PAULO RENATO DE SOUZA, Economista... - "A velha historinha de sempre..."

Entrevista:
Paulo Renato Souza
"Contra o corporativismo"
-
O secretário da Educação de São Paulo diz que sem meritocracia não haverá avanços na sala de aula - e que os sindicatos são um entrave para o bom ensino


-


Monica Weinberg
Lailson Santos
-
"É preciso premiar o esforço e o talento para tornar a carreira de professor atraente. O bom ensino depende disso"
-
--
Criar um sistema capaz de atrair os melhores alunos para a carreira de professor é imperativo para um ensino de alto nível. Daí a relevância da aprovação, na semana passada, de um projeto concebido pelo economista Paulo Renato Souza, 64 anos, secretário estadual da Educação em São Paulo. Trata-se de um plano de carreira para os professores inteiramente baseado na meritocracia, conceito ainda raro nas escolas brasileiras e repudiado pelos sindicatos, seus principais adversários. "Os sindicalistas são um freio de mão para o bom ensino", resume o ex-ministro da Educação no governo Fernando Henrique, que reconhece avanços na implantação dos rankings no Brasil e da cobrança de resultados com base neles, mas adverte: "É preciso discutir a educação com mais objetividade e menos ideologia".
-
Um relatório recente da OCDE mostra que o Brasil foi o país que mais aumentou o investimento na educação em proporção ao total dos gastos públicos - mas muitos se queixam de falta de dinheiro nas escolas. Estão certos? O maior problema no Brasil não é a falta de dinheiro, mas como esses recursos são empregados - em geral, de maneira bastante ineficaz. Daria para obter resultados infinitamente superiores apenas fazendo melhor uso das verbas já existentes. Prova disso é que, com orçamento idêntico, algumas escolas públicas oferecem ensino de ótima qualidade e outras, de péssimo nível.
-
O que explica isso?
-
As boas são comandadas por diretores com uma visão moderna de gestão, coisa raríssima no país. Não existe no Brasil nada como um bom curso voltado para treinar esses profissionais a liderar equipes ou cobrar resultados, o básico para qualquer um que se pretenda gestor. Quem se sai bem na função de diretor, em geral, é porque tem algo como um dom inato para a chefia. A coisa funciona no improviso.
-
As avaliações sempre chamam atenção para o despreparo dos professores brasileiros. A que o senhor atribui isso?Às universidades que pretendem formar professores, mas passam ao largo da prática da sala de aula. No lugar de ensinarem didática, as faculdades de pedagogia optam por se dedicar a questões mais teóricas. Acabam se perdendo em debates sobre o sistema capitalista cujo ideário predominante não passa de um marxismo de segunda ou terceira categoria. O que se discute hoje nessas faculdades está muito distante de qualquer ideia que seja cientificamente aceita, mesmo dentro da própria ideologia marxista. É uma situação difícil de mudar. A resistência vem de universidades como USP e Unicamp, as maiores do país.
-
"Uma ideia bastante difundida no Brasil é que o professor deve ter liberdade total para construir o conhecimento junto com seus alunos. Essa apologia da ausência de método só atrapalha"
-
Como isso se reflete nas escolas?
-
Muitos professores propagam em sala de aula uma visão pouco objetiva e ideológica do mundo. Alguns não dominam sequer o básico das matérias e outros, ainda que saibam o necessário, ignoram as técnicas para passar o conhecimento adiante. Vê-se nas escolas, inclusive, certa apologia da ausência de métodos de ensino. Uma ideia bastante difundida no Brasil é que o professor deve ter liberdade total para construiro conhecimento junto com seus alunos. É improdutivo e irracional. Qualquer ciência pressupõe um método. No ensino superior, há também inúmeras mostras de como a ideologia pode sobrepor-se à razão.
-
O senhor daria um exemplo?
-
Existe um terrível preconceito nas universidades públicas contra o setor privado. Ali, qualquer contato com as empresas é visto como um ato de "venda ao sistema". Como se as instituições públicas fossem sustentadas por marcianos e não pelo dinheiro do governo, que vem justamente do sistema econômico. O resultado é que, distantes das empresas, as universidades se tornam menos produtivas e inovadoras.
-
Em muitos países, as universidades públicas cobram mensalidade dos estudantes que têm condições de pagar. Seria bom também para o Brasil?
-
Sem dúvida. Só que esse é um tabu antigo no país. Se você defende essa bandeira, logo o identificam como alguém que quer privatizar o sistema. Preservar a universidade gratuita virou uma questão de honra nacional. Bobagem. É preciso, de uma vez por todas, começar a enxergar as questões da educação no Brasil com mais pragmatismo e menos ideologia.
-
Na semana passada, foi aprovado em São Paulo um novo plano de carreira para professores e diretores. Esse tipo de medida tem potencial para revolucionar o ensino nas redes públicas?Planos de carreira são essenciais para tornar essas profissões novamente atraentes, de modo que os melhores alunos saídos das universidades optem por elas. Sem isso, é difícil pensar em bom ensino. O plano de São Paulo não apenas eleva os salários, o que é um chamariz por si só, mas faz isso reconhecendo, por meio de avaliações, o mérito dos melhores profissionais. Ou seja: esforço e talento serão premiados, um estímulo que a carreira não tinha. A meritocracia consta de qualquer cartilha de gestão moderna, mas é algo ainda bem novo nas escolas brasileiras.
-
Os principais adversários do projeto foram os sindicatos desses profissionais. Que lógica há nisso?
-
É uma manifestação de puro corporativismo. Pela nova lei, só poderão pleitear aumento de salário aqueles professores assíduos ao trabalho - um pré-requisito mais do que razoável. É o mínimo esperar que, para alguém almejar ascender na carreira, ao menos compareça ao serviço. Apenas o sindicato não vê desse jeito. Ele encara as "faltas justificadas" como um direito adquirido. E ponto. Não quer perdê-lo. Mas repare que eu não estou dizendo que os professores ficarão sem esse direito. Só estou tentando fornecer um estímulo adicional para que eles deem suas aulas. O último levantamento que fizemos mostra que a média de ausências na rede estadual de São Paulo é altíssima: foram trinta faltas por docente apenas em 2008. Ao resistir a uma medida que premia a presença na escola, o sindicato dá mais uma mostra de como o espírito corporativista pode sobrepor-se a qualquer preocupação com o ensino propriamente dito."No lugar de ensinarem didática, as faculdades de pedagogia optam por perder tempo com discussões teóricas que, não raro, se baseiam em conceitos sem nenhuma comprovação científica"
-
O movimento sindical passa ao largo da preocupação com o bom ensino?
-
É exatamente isso. Está claro que os sindicatos estão focados cada vez mais no próprio umbigo e menos nas questões relativas à educação. Entendo, evidentemente, que lutem pelos interesses da categoria, propósito de qualquer organização do gênero. Mas a qualidade do ensino, que é de responsabilidade social deles, deveria vir em primeiro lugar. Em 1984, quando fui secretário da Educação em São Paulo pela primeira vez, já se via essa forte tendência nos sindicatos. Em reuniões com os professores, palavras como aluno ou ensino jamais eram mencionadas por eles. Apenas se discutiam ali os interesses da categoria. E esse problema só piora.
-
O que causa a piora?
-
O movimento sindical politizou-se a um ponto tal que não se acham mais nele pessoas realmente interessadas em educação. Estas debandaram. Hoje, os sindicatos estão tomados por partidos radicais de esquerda sem nenhuma relevância para a sociedade. Para essas agremiações insignificantes, o sindicalismo serve apenas como um palanque, capaz de lhes dar uma visibilidade que jamais teriam de outra maneira. É aí que tais partidos aparecem e fazem circular seu ideário atrasado e contraproducente para o ensino. Repare que esses sindicalistas são poucos - e estão longe de expressar a opinião da maioria. Mas têm voz.
-
Com a nova lei fica determinado que, para pular de nível na carreira, o professor seja submetido a uma prova. Por que os sindicatos rejeitaram a ideia?É lamentável que um grupo de professores critique a existência de uma prova. Veja o absurdo. Eles alegam que um exame os obrigaria a estudar mais e que não têm tempo para isso. A crítica expressa também uma resistência à avaliação, que até hoje se vê arraigada em certos setores da sociedade brasileira.
-
Nisso o Brasil destoa de outros países?
-
Em culturas mais individualistas e competitivas, como a anglo-saxã, as aferições do nível dos professores e do próprio ensino não são apenas bem-aceitas como têm ajudado a melhorar as escolas, na medida em que fornecem um diagnóstico dos problemas. Os professores brasileiros que agora resistem a passar pela avaliação certamente não estão atentos a isso. Sua maior preocupação é lutar por direitos iguais para todos - velha bandeira que ignora qualquer noção de meritocracia. Por isso, eles se posicionaram contra uma regra do projeto que limita o número de promoções por ano: não mais do que 20% dos profissionais poderão subir de nível. É um teto razoá-vel: evita um rombo no orçamento e, ao mesmo tempo, promove uma bem-vinda competição. Demandará mais empenho e estudo dos professores - o que não lhes fará mal.
-
No campo salarial, premiar o mérito significa romper com o conceito da isonomia de ganhos para todos os funcionários. Esse não é um valor que deveria ser preservado?
-
Não. Já é consenso entre especialistas do mundo todo que aumentos concedidos a uma categoria inteira, desprezando as diferenças de desempenho entre os profissionais, não têm impacto relevante no ensino. O que faz diferença, isso sim, é conseguir premiar os que se saem melhor em sala de aula. A isonomia é uma bandeira velha.
-
Há experiências no Brasil com a concessão de bônus aos melhores professores. Isso funciona?Sem dúvida. Quando há um sistema feito para reconhecer e premiar os talentos individuais, a eficácia das políticas públicas para a educação aumenta. Coisa de quinze anos atrás, o Brasil estava a anos-luz disso. Não havia informação sobre nada - nem mesmo se sabia o número de escolas no país. O dado variava entre 190 000 e 230 000 colégios, dependendo da fonte. Hoje, já dá até para comparar o ensino de Capão Redondo, na periferia de São Paulo, com o das escolas da Finlândia. Desse modo, é possível traçar metas bem concretas para a educação e cobrar por elas - alicerces para uma boa gestão em qualquer setor.
-
Já se formou um consenso no Brasil de que esse é o caminho acertado?Acho que sim. Nos primeiros anos de governo Lula, os petistas chegaram a pôr em xeque a ideia de que a qualidade do ensino precisa ser aferida com base em dados objetivos. Foi um retrocesso. Mas hoje o MEC norteia suas políticas com base em avaliações, metas e cobrança de resultados. Diria que eles chegam até a exagerar na dose, divulgando rankings que, como ministro, eu mesmo preferia não trazer a público. É o caso do Enem.
-
O Enem não é um bom indicador da qualidade do ensino em escolas públicas e particulares?
-
O problema é que, como só faz o exame quem quer, ele não necessariamente traduz a qualidade de ensino na escola como um todo. E se apenas os bons alunos de determinado colégio se submeterem à prova? O retrato sairá distorcido. Grosso modo, o Enem até espelha bem a realidade. Mas, como a amostra de alunos de cada escola é aleatória, há espaço para que se cometam injustiças. Em tese, qualquer colégio particular que se sentisse prejudicado pelo ranking poderia processar o MEC. De modo geral, porém, sou absolutamente favorável a que se lance luz sobre os resultados. O monitoramento deve ser constante.
-
No começo do ano, flagraram-se em material que seria distribuído às escolas pela Secretaria Estadual da Educação erros crassos, tais como a inclusão de dois Paraguais num mapa da Américado Sul. Faltou fiscalização por parte do governo?
-
Sem dúvida. Ainda que o material não seja produzido pela secretaria, é de responsabilidade dela que não passem erros. Não há o que argumentar aí. Depois do episódio, os cuidados foram redobrados. Cada livro é revisado de três a quatro vezes. Apostila com erro é um desserviço à educação - e desperdício de dinheiro público.

SERGIO HADDAD, Economista, pós em Educação, História e Sociologia. Professor... - "O contraste!!"

Sérgio Haddad fala sobre os desafios do professorado em entrevista para o Jornal Mundo Jovem
-
Na mídia, notícias sobre educação são publicadas não mais apenas em cadernos de ensino, mas também nas páginas policiais, desvelando agressões e agredidos. A luta a favor de melhores condições de trabalho coloca frente a frente o professorado e os governos. Entre tantas situações contemporâneas, pensar a atuação docente é um grande desafio, o qual deve mobilizar a todos nós.
-
O professor Sérgio Haddad, revela os desafios dessa importante profissão e nos convida a “transver” o mundo sob o olhar atento à recriação do papel dos(as) professores( as).
-
Sérgio Haddad,professor, coordenador-geral da ONG Ação Educativa.
Endereço eletrônico: sergiohaddad@terra.com.br

-
-
Mundo Jovem: É possível afirmar que hoje há uma certa desvalorização do(a) professor(a) ?
-
Sérgio Haddad: O processo de desvalorização vem junto com a universalização da escola, principalmente no Ensino Fundamental. Na medida em que houve uma abertura de vagas muito grande, e esta abertura foi feita com um volume de recursos que não acompanhou as necessidades. Simplesmente aumentaram o número de alunos na sala de aula, aumentaram as turmas, aumentaram as classes, enfim, um aumento de despesas não correspondentes. E o professor sofreu muito com isso e pagou com sua desvalorização.
-
Mundo Jovem: Mas por que se culpa o(a) professor(a) ?
-
Sérgio Haddad: Eu acho inclusive que, hoje, o(a) professor(a) passou a ser criminalizado. Antigamente você dizia o seguinte: com a universalização, a escola pública ficou pior, porque os pobres entraram na escola, a criança não tem experiência escolar, os pais não têm experiência escolar, então você empobreceu a escola pública. Naquela época culpabilizavam os alunos. Agora, o processo é outro.
-
Qualquer questão é um problema do(a) professor(a), com suas disponibilidades, com suas dificuldades. Ele(a) é o(a) grande responsável por todos os problemas que acontecem na escola. E não é bem assim, afinal existe uma quantidade de fatores que impactam a qualidade da escola pública, e nós não podemos deixar na mão do(a) professor(a) a única responsabilidade disso.
-
É comum ver nas páginas dos jornais e nos discursos dos governantes a responsabilização do professorado pela insuficiência da qualidade do ensino, alegando formação deficiente, absenteísmo e falta de compromisso pessoal com a carreira. A consequência imediata é a ausência da participação dos docentes nos debates públicos e na formulação das políticas, ficando na mão dos órgãos centralizados e dos especialistas o papel de conceber e formular ações pedagógicas, relegando ao professorado o papel mecânico de aplicar tais ações.
-
Mundo Jovem: Isso não compromete o papel de educador(a)?
-
Sérgio Haddad: No novo cenário, eles(as) passam a ser o principal “bode expiatório” dos insucessos dos sistemas de ensino, recebendo a pecha de incompetentes e/ou descomprometidos, em grande parte do discurso de gestores e da imprensa. “Parece evidente que tal deslocamento tem a ver com a mudança no perfil socioeconômico do professorado, decorrente da massificação da escola. Ele passa a ser composto por uma parcela cada vez maior de mulheres oriundas das classes populares, com participação crescente de afrodescendentes.” (não entendi, será menos suficiente essas pessoas?)
-
Diante desse cenário, impõe-se o desafio de compreender e denunciar os significados políticos e consequências pedagógicas desse processo de culpabilização dos(as) professores( as) e, principalmente, de fazer frente a ele, produzindo uma contraideologia nos marcos dos direitos humanos, da democracia e da justiça social. É fundamental desenvolver estudos, implantar políticas e apoiar iniciativas dos próprios professores e professoras que contribuam para a recriação de seu papel como educadores e servidores públicos, intelectuais, ao mesmo tempo autônomos e comprometidos com um projeto republicano de educação pública de qualidade para todos.
-
Mundo Jovem: O que tem a ver a classe social e a etnia das professoras?
-
Sérgio Haddad: O trabalho do professor foi feminilizando mais do que era. E mais do que isso, ele tem incorporado cada vez mais pessoas negras e pardas. São essas pessoas que estão dando conta e estão trabalhando nas escolas públicas. Por isso temos que tomar cuidado, porque nós podemos estar próximos de uma criminalização do professor que tem por trás toda uma visão machista, preconceituosa, racista, que a sociedade tem em relação ao professor.
-
Mundo Jovem: E os casos de violência na escola, especialmente contra o(a) professor(a) ?
-
Sérgio Haddad: As brigas na escola sempre aconteceram. Mas hoje tem a televisão que está dando uma dimensão muito grande a esses fatos. E temos que ter um pouco de cuidado com isso.
-
Eu diria que a violência não é uma característica da escola, e sim de toda a sociedade. Os casos de violência na sociedade, de maneira geral, cresceram: os muros subiram, as grades subiram, o número de vigilância privada cresceu... E a escola não é imune a esse comportamento da sociedade. Cresceu a falta de respeito entre pais e filhos, mudou o tipo de relação e isso também mudou na sala de aula. Daí muda também a característica da relação de respeito com o professor. A unidade escolar é um laboratório do que está na sociedade. O aluno não está isento e isso é que a gente vê refletido na escola.
-
Mundo Jovem: Você identifica um processo de mercantilização da educação?
-
Sérgio Haddad: Eu acho que na medida em que os interesses privados entram na escola, você começa a ter algo que diz respeito menos ao sentido público dessa escola e mais ao que é diretamente ligado à questão privada. Um exemplo: hoje cada vez mais você vê sistemas educacionais entrarem nas redes públicas, subsídios privados, que botam apostilas, vendem aulas públicas que acompanham pelos telões, acompanhamento pela internet... E tudo isso vai criando uma visão muito própria e tirando do(a) professor(a) a capacidade de produção, de criação. É uma coisa dada, não é a experiência do(a) professor(a). Quando você tira isso da mão dele(a) e entrega para pessoas que produzem, você acaba privatizando de alguma forma o processo educacional. Você tira a ação pública desse(a) professor(a) para interesses privados de alguns deles, sob o ponto de vista da sua perspectiva pedagógica, da sua autonomia como profissional.
-
Mundo Jovem: Há pesquisas que constatam que um grande número de professores sofre com problemas de saúde. A que se pode atribuir isso?
-
Sérgio Haddad: É um reflexo das condições de trabalho, dessa violência etc. Talvez em nenhuma outra profissão ou em poucas profissões você tenha que ficar frente a frente com um conjunto de 30, 40 pessoas, num confronto, dando conta de algo que é de difícil realização, pressionado de fora para dentro, culpabilizado pelo seu trabalho. É natural que isso afete a pessoa. E imagino que os alunos também se sintam “pesados” com essa situação.
-
Mundo Jovem: A partir das mudanças do mundo, há uma exigência que o(a) professor(a) também mude?
-
Sérgio Haddad: Todo professor tem que se atualizar. Todo o processo de mudança social ou tecnológica tem que ser incorporado e o(a) professor(a) tem que ter condições de fazer isso. Se ele(a) estiver ocupado o tempo todo em dar aulas porque precisa sobreviver, vai ter dificuldade para se atualizar. Então é preciso que se deem as condições e se crie a disponibilidade para isso.
-
Mundo Jovem: A valorização também passa pela remuneração. É importante estabelecer um piso salarial para o magistério?
-
Sérgio Haddad: É extremamente necessário. Mesmo assim, 950 reais para o ano que vem e para 2011 representam muito pouco. E ainda assim há governantes que entram na justiça para não pagar esse piso. É de chorar...
-
Mundo Jovem: A luta do professor tem sido uma luta de classe. A sociedade civil, os pais, os alunos não deveriam se engajar mais na defesa da educação e dos educadores?
-
Sérgio Haddad: Essa talvez seja a grande questão: por que a luta da educação é uma luta somente do professor e do sindicato? Por que os pais não se mobilizam para isso? Pesquisas nacionais dizem que os pais estão satisfeitos com a educação. Talvez porque não tenham experiência. Hoje, de fato, as pessoas têm mais escolaridade do que antigamente. As novas gerações têm mais escolaridade do que a geração anterior, e isso já é um ganho. Talvez essa possa ser uma explicação. E acho que se a escola se abrir mais para os pais, se os pais puderem estar mais dentro dela, poderá haver maior engajamento. O próprio sindicato se fecha, não há diálogo com os pais. Teria que se estabelecer uma grande parceria com os pais.
-
Mundo Jovem: Com tantas cobranças e tantas dificuldades, ser professor(a) é uma atitude heroica?
-
Sérgio Haddad: Eu diria que hoje, apesar dessas condições, ser um profissional nessa área já é uma grande vitória. Quem se submete a trabalhar nessas condições que estão colocadas para o(a) educador(a)? Precisa realmente ter muita vontade de perseverar e tentar realizar o seu trabalho. E acho que grande parte dos(as) professores( as) tem essa característica.
-
Mundo Jovem: Que importância teve o(a) professor(a) para você?
-
  • Ignácio de Loyola Brandão, escritor. Eu não seria leitor, escritor ou cronista se não fossem algumas professoras que marcaram minha vida e me mostraram o prazer da leitura. Eram professoras incríveis, porque tinham um olhar para dentro do aluno, e isso que eu gostaria que os professores tivessem. É muito complicado, eu sei que hoje é difícil, mas olhem para cada um, mesmo aquele mais rebelde, o mais chato, o mais quieto... Alguma coisa nele tem que o leva a ser daquele jeito. Se o professor não tiver paixão pelo que faz, se não for entusiasmado, se não gostar da escola, mesmo com todas as dificuldades... Mas o que não é difícil? Tudo é difícil. Mas aquela é sua missão, aquele é seu ofício, então se jogue dentro dele, procurando transformar.
-
  • Rosita Edler Carvalho, doutora em Educação pela UFRJ e escritora. Não é tarefa difícil escrever sobre a importância que os professores tiveram em minha vida. Na verdade há que falar sobre a importância que ainda têm, pois continuo como aluna, numa pós-graduação sobre neuropsicologia. Além de nos encantar com o conhecimento que possuem, professores nos estimulam a construí-los. Além de nos assombrar com o muito que há para aprender, professores nos fazem pensar e desejar. Ao pensar, fazemos uma releitura de mundo e ao desejar nos humanizamos, valorizando nossas emoções e as energias que nos impulsionam. Todas as homenagens seriam poucas, pois como educadoresque são, os professores nos ensinam a estabelecer relações com o saber. E tais relações são sempre positivas e oportunas.

23 outubro 2009

Para Unesco, situação do professor é crítica


-
Relatório aponta falhas na formação, que enfatiza pouco a relação entre teoria e prática, e falta de valorização profissional
-
Quase a metade dos professores tem pais sem nenhuma escolaridade ou que chegaram apenas à 4ª série do ensino fundamental
-
Num dos mais completos relatos já feitos sobre a situação do professor brasileiro, a Unesco aponta que a situação é bastante crítica, e não apenas por causa dos baixos salários.
-
Além de a carreira, que emprega 2,8 milhões de pessoas no país, não ser atrativa para os jovens de maior nível socioeconômico, os alunos que ingressam em cursos de pedagogia e licenciaturas recebem uma formação que enfatiza pouco a relação entre teoria e prática.
-
Eles se formam principalmente em instituições particulares, à noite, e poucos passam por atividades de estágio bem coordenadas antes de começarem a dar aulas.
-
Para mostrar esse quadro complexo, as pesquisadoras da Fundação Carlos Chagas Bernadette Gatti e Elba Barretto usaram várias bases de dados sobre professores no país.
-
Escolaridade
-
Do questionário que é aplicado aos alunos que fazem o Enade (exame que avalia a educação superior), elas destacaram, entre outros fatos, que os universitários de cursos de licenciatura e pedagogia vêm de famílias mais pobres, com menor bagagem cultural.
-
Quase metade (50,6%) tem pais sem nenhuma escolaridade ou que chegaram apenas à 4ª série do ensino fundamental. Entre alunos dos cursos de medicina, por exemplo, esse percentual é de 7,1%. Na carreira de enfermagem, a proporção é de 37,7%.
-
"São jovens em ascensão social, e é preciso aproveitar o potencial deles, que buscam na universidade enriquecer sua bagagem sociocultural. Para isso, no entanto, é fundamental mexer nas grades curriculares dos cursos que formam professores, que deixam muito a desejar", diz Bernadette Gatti.
-
Para chegar a essa conclusão, o relatório detalha uma pesquisa da Fundação Carlos Chagas, feita com apoio da Fundação Victor Civita, que analisou a estrutura curricular e as ementas de 165 cursos de pedagogia e licenciaturas.Num trecho do relatório, as autoras destacam que as "ementas dos cursos frequentemente expressam preocupação com o porquê ensinar, o que pode contribuir para evitar que conteúdos se transformem em meros receituários, mas só de forma muito incipiente registram o quê e como ensinar.
-
"A proporção de horas dedicadas a formação específica, por exemplo, não passa de 30% nesses cursos.
-
"A formação é precária, com pouca ênfase na relação entre teoria e prática. E não há acompanhamento adequado dos estágios. Fazer isso de maneira benfeita tem um custo alto, pois envolve um professor designado para acompanhar cada estudante em seu projeto. Muitas faculdades privadas não estão dispostas a arcar com isso", critica a pesquisadora.
-
Salário
-
Célio da Cunha, assessor especial da Unesco, afirma que o relatório deixa muito evidente que a questão salarial é importante, mas que a valorização do trabalho do professor não se restringe a isso.
-
"Salários, apenas, não operam milagres. De que adianta aumentar os rendimentos do professor se ele continuar a ser formado da mesma maneira?", indaga Cunha.
-
Ele afirma que a dificuldade de valorizar a carreira do magistério não é um desafio apenas do Brasil. No entanto, na comparação com países desenvolvidos, os rendimentos dos professores brasileiros ficam muito abaixo de seus colegas europeus, por exemplo.
-
"E o que agrava mais a situação dos professores brasileiros e de outros países menos desenvolvidos é que, na Europa, os serviços públicos de saúde e educação são de alta qualidade, o que não acontece no Brasil, onde parte da renda acaba sendo destinada a suprir essa deficiência."
-
Folha de São Paulo [04OUT2009]

Confederação aponta envelhecimento dos professores e desinteresse pelo magistério


BRASÍLIA - Os professores brasileiros comemoram nesta quinta-feira o seu dia na expectativa de que a Lei do Piso Salarial Profissional, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada em julho do ano passado pelo presidente da República, finalmente "pegue" e seja adotada por todas unidades da federação.
-
"O grande presente que poderia ser dado aos professores neste momento é o reconhecimento pelo Supremo Tribunal Federal da constitucionalidade da Lei 11.738 que estabeleceu o piso nacional para os docentes", assinala Roberto Franklin Leão, presidente da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (Cnte).
-
A adoção do piso e a melhoria da carreira podem reverter o envelhecimento da profissão e o desinteresse dos mais jovens pelo magistério, acredita Leão. Segundo ele, a falta de renovação já compromete a disponibilidade de professores de matemática, química, física e biologia.
-
"O salário é muito baixo. A perspectiva de fazer o percurso da carreira é muito obscura, sujeita a toda sorte de sobressaltos. O professor precisa saber o que lhe espera nesses 25 ou 30 anos que ele percorre durante a vida profissional" , aponta o presidente da Cnte.
-
Roberto Leão vê no Poder Público a responsabilidade de reverter o quadro. "Se não houver por parte das autoridades responsáveis pela educação uma vontade de tornar a carreira do magistério mais atraente, nós vamos passar por dificuldades maiores do que as atuais", diz, criticando processos de avaliação dos professores baseada no desempenho dos alunos. "É injusto. Não se pode avaliar o professor pela nota que recebe o aluno sem considerar as condições de vida do estudante, a origem familiar e os espaços sociais que frequenta".
-
Aos problemas da carreira do magistério, o presidente da confederação associa a violência na escola, a indisciplina e a má criação dos alunos. "A violência não é uma coisa da escola. A violência está na sociedade e a escola faz parte da realidade. Mas essa situação de violência também é sim um fator para que as pessoas pensem: 'eu ganho pouco, não tenho carreira, eu ainda vou me sujeitar a ser agredido por um menino?'", ressalta.
-
Na opinião do historiador e professor da Universidade de Campinas (Unicamp), Jaime Pinsky, o magistério não tem mais prestígio e em sala de aula o professor lida com uma maior a irreverência dos alunos, "que às vezes ultrapassa os limites da educação", diz, acrescentando que em todos os níveis sociais os pais estão "terceirizando" as funções da família para a escolas e estão cobrando dos professores responsabilidades que não são suas.
-
Para Leão, "a escola precisa ficar atraente para os alunos. Por mais pobre que os alunos sejam, há a possibilidade de eles estarem em contato com as novas tecnologias. Há um descompasso: enquanto os alunos são digitais, a escola é analógica".
-
Jaime Pinsky avalia que o papel do professor mudou nos tempos de internet, celular e notebook. "Não cabe mais levar informação, mas relacioná-las e transformá-las em conhecimento" . Para ele, a mudança exige formação teórica mais sólida dos professores e mais leitura.
-
"Em geral, os professores lêem muito pouco. Muitas vezes, utilizam os próprios manuais e livros didáticos que adotam para aprender sobre o conteúdo que precisam ministrar. Se a publicação tem falhas, ele não tem conhecimento para superar essas lacunas", afirma Pinsky. O historiador lamenta o "pacto da mediocridade" entre escola, professor e aluno. "Um finge que aprende. O outro finge que ensina. O empregador finge que paga bem".
-
Perguntado em entrevista coletiva sobre os problemas de formação dos professores, o ministro da Educação, Fernando Haddad, afirmou que o MEC está possibilitando "acesso irrestrito" dos docentes à universidade pública. "Por isso, lançamos o Plano Nacional de Formação de Professores para que todo professor possa ter uma formação adequada. Os 50 mil primeiros professores já foram inscritos e vamos reabrir as inscrições para o primeiro semestre de 2010".
-
O plano oferece formação a três perfis diferentes de profissionais: primeira licenciatura para professores que não têm curso superior; segunda licenciatura para aqueles que já são formados, mas lecionam em áreas diferentes da que se graduaram; e licenciatura para bacharéis que necessitam de complementação para o exercício do magistério. Segundo o MEC, até 2011 serão oferecidas 331 mil vagas em universidades públicas, reservadas exclusivamente pelo plano.
-
Agência Brasil [15OUT2009]

18 outubro 2009

Salário médio de professor sobe de R$ 994,00 para R$ 1.527,00


-
O salário médio dos professores no País subiu de R$ 994,00, em 2003 para R$ 1.527,00 em 2008. O valor é quase R$ 600,00 maior do que a média dos trabalhadores brasileiros. O estudo, divulgado na semana passada pelo Ministério da Educação (MEC), mostra, no entanto, que essa é uma realidade restrita a alguns locais do País. Em 16 Estados brasileiros, o salário do professor ainda é inferior a essa média nacional.
-
O Distrito Federal, que há cinco anos já tinha o maior salário docente nacional, continua na ponta. Hoje, um professor da educação básica na capital federal, com carga horária de 40 horas semanais, recebe R$ 3.360,00 mensais - um aumento superior a 100% desde 2003.
-
Outros Estados, como Tocantins e Maranhão, tiveram aumentos substanciais, apesar de ainda estarem abaixo da média nacional, com salários de R$ 1.483,00 e R$ 1.313,00, respectivamente.-Estado mais rico do País, São Paulo paga hoje, a seus professores, em média R$ 1.845,00 - contra os R$ 1.305,00 de cinco anos atrás. Pernambuco tem o pior salário e também promoveu um reajuste pequeno no período: passou de R$ 701,00 para R$ 982,00.
-
Hoje, no entanto, nenhum Estado tem uma média salarial inferior aos R$ 950,00 do piso nacional do professor. No entanto, é provável que boa parte das redes municipais ainda não tenha alcançado essa faixa. O Ministério da Educação ainda não tem dados sobre isso.
-
Apesar de terem um salário médio superior ao da média nacional, os professores perdem para outros profissionais quando entra na comparação aqueles com ensino superior completo ou incompleto. A média nacional de um profissional desse tipo é, hoje, de R$ 2,5 mil mensais. Para um professor, alcança apenas R$ 1.638,00.
-
Em julho de 2008, os professores se tornaram a primeira categoria a ter um piso salarial nacional definido na Constituição. Pela lei, os professores da rede pública (Estados, municípios e União) não poderão receber menos do que R$ 950,00 para uma jornada de trabalho semanal de 40 horas. O piso entrou em vigor, mas os Estados e municípios que pagavam abaixo desse valor têm até 2010 para atingir o valor fixado. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
-
-
A TRIBUNA DIGITAL
domingo, 18 de outubro de 2009

Senado aprova projeto que reserva vagas em universidades para professores


Educadores da rede pública poderão cursar magistério ou licenciatura. Apreciado na comissão de Educação, projeto seguirá para a Câmara Robson Bonin do G1, em Brasília.
-
A Comissão de Educação do Senado aprovou nesta terça-feira (13) projeto de lei que pretende garantir vagas nas universidades federais a professores da rede pública de ensino. Apreciada em caráter terminativo, a matéria ainda deve passar por ajustes finais na própria comissão para, em seguida, ser encaminhada à Câmara. Se for aprovado pelos deputados, o texto será encaminhado para sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
-
Elaborado pelo senador Cristovam Buarque (PDT-DF), o projeto estipula uma parcela de 20% das vagas para professores em cada universidade. Se o número de educadores for superior à cota, cada instituição de ensino poderá adotar critérios de seleção das vagas. Para ter direito à cadeira, o professor concursado precisa ter no mínio três anos de atividade. Os candidatos poderão optar pelos cursos de licenciatura ou magistério.
-
"Esse projeto vai representar um reconhecimento à categoria, justamente na véspera do Dia Nacional do Professor. Apresentei esse projeto em 2003. Desde então, ele chegou a ser arquivado, nós reapresentamos e agora, depois de um bom tempo, ele foi aprovado", comemora Cristovam.
-
A líder do governo no Congresso, senadora Ideli Salvatti (PT-SC), também comemora a aprovação do projeto. A catarinense lembra que há uma parcela significativa de professores que ainda não tem diploma de ensino superior. "O MEC tem diversos programas para melhorar o nível de capacitação dos professores”.
-
Esse tema é muito importante, porque influencia diretamente na melhoria da educação no país", avalia Ideli. Por ter sofrido modificações, a matéria aprovada nesta terça, ainda terá de passar por uma segunda votação de análise final de redação na próxima terça-feira (20). Nesse período, os integrantes da comissão ainda poderão apresentar emendas.
-
Portal G1

05 outubro 2009

Valeu pela decência, Mercedes Sosa!!!

03OUT2009 - 74 ANOS

04 outubro 2009

O mundo não tem mais dono da verdade, diz Lula

-
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou hoje que o mundo não tem mais nenhum "dono da verdade" porque "todo mundo senta à mesa, com muita humildade, querendo aprender, querendo saber como é que vai fazer para lidar com a crise econômica, para lidar com o sistema financeiro, redefinir o papel do Estado". "Isso é o que explica o sucesso do G-20", disse, no programa semanal de rádio "Café com o Presidente". De acordo com Lula, a reunião da cúpula das 20 maiores economias do mundo, em Pittsburgh, Estados Unidos, na semana passada, da qual participou, teve três "conquistas".
-
A primeira, afirmou, é que o G-20 será o grande fórum para debater a economia do mundo, substituindo o G-8 (Grupo dos 7 e Rússia). A segunda é a ampliação da participação das nações emergentes no Fundo Monetário Internacional (FMI). "Nós reivindicamos 7%, e nós passamos para cinco. Qualquer negociador sabe que quem reivindica sete e conquista cinco, é uma vitória extraordinária", disse. A terceira conquista, segundo ele, foi o acréscimo da participação dos emergentes nas cotas do Banco Mundial (Bird) em 3%. "A gente queria ter uma participação de 6%, na véspera, à noite, do encontro, o Obama disse que não era possível negociar o Banco Mundial, que não tinha acordo. O que aconteceu no dia seguinte é que de manhã nós conseguimos fazer com que aumentasse a participação dos emergentes em 3%", disse.

-
Lula lembrou também o discurso de abertura que fez na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. "Foram três mensagens. Primeira, a questão da crise econômica mundial; segunda, a questão do clima; terceira, a questão da governança global. Ou seja, são três assuntos que estão na ordem do dia, três assuntos que o mundo inteiro está discutindo e três assuntos que interessam ao Brasil."

-
Países pobres
Ao falar sobre a Segunda Cúpula dos Países da América do Sul com os Países da África, em Isla Margarita, na Venezuela, da qual participou em seguida, o presidente declarou que, para ele, ir a uma reunião de países ricos e depois a um encontro das nações mais pobres foi "uma lição de vida".

-
"Foi um momento de glória, ter participado, durante uma semana inteira, do G-20, que reúne os países mais ricos, e ter saído do G-20 e vir participar do encontro dos mais pobres."

-
Para o presidente, a ida a dois encontros tão diferentes permitiu "compreender melhor que é preciso ter uma nova ordem mundial, que é preciso a gente cuidar de concluir o acordo da Rodada de Doha, na OMC (Organização Mundial do Comércio), que é preciso ter mais política de transferência de tecnologia para os países pobres, que é preciso fazer com que a miséria seja extirpada do mundo, com a colaboração dos países ricos".

-
Lula considerou ainda que essa "união" entre América do Sul e África é uma "coisa extremamente rica" para mudar a geografia comercial e política. "Quem viver mais alguns anos vai perceber que vai mudar a situação da governança mundial, a partir da relação que nós estabelecemos com o mundo árabe, com os países da América Latina, Caribe, Caricom (Comunidade do Caribe), e com o continente africano. Ou seja, é uma nova lógica: nós somos a maioria dos países do mundo. Portanto, nós temos que utilizar essa força nas decisões da governança global", ressaltou.

-
Reuters - SET2009

Professores sofrem violência sem medida

Vólia Bonfim Cessar (Juíza do Trabalho)
-
-

Os parcos salários, o sentimento de desvalorização do trabalho, a falta de respeito dos alunos contra os professores, pois retiram sua autoridade em sala de aula, a ingerência dos pais na atividade acadêmica, além de outros fatores, têm levado professores a adoecerem física e psicologicamente.
-
A esses fatos acresça-se a violência urbana que ocorre principalmente nas áreas de risco da cidade, como troca de tiros, sequestros, invasões e assaltos, locais onde alguns professores passam todos os dias. Sofrem paralelamente com a falta de concessão de férias, com a ausência de intervalo, com o excesso de trabalho, o atraso no pagamento dos salários, a constante ameaça de despedida, as reuniões obrigatórias fora do horário de trabalho, a discriminação de crença feita por colégios de religião diversa, as agressões verbais ...
-
Tais atos conjugados ou não entre si constituem assédio moral ambiental, pois o meio ambiente em que está inserido lhe é perverso e agressivo. Cabe ao patrão, às autoridades públicas, aos alunos e aos pais o dever de impedir tal prática.
-
Assédio é o termo utilizado para designar toda conduta que cause constrangimento psicológico ou físico à pessoa. Já o assédio moral é caracterizado pelas condutas abusivas praticadas pelo empregador ao empregado que afetam o estado psicológico do trabalhador. Normalmente, refere-se a um costume ou prática reiterada da empresa.
-
O assédio horizontal ou ambiental ocorre quando a vítima é exposta a situações constrangedoras, estressantes, humilhantes ou inoportunas pelos colegas ou por terceiros (no caso, alunos e pais de alunos). A vítima é hostilizada com investidas, provocações, violência, agressões, atos desrespeitosos, atos ilegais e piadas de forma a caracterizar alta nocividade no ambiente de trabalho. Os atos praticados quase sempre têm o intuito de prejudicar, pressionar ou desestabilizar a vítima.
-
O empregador coloca em xeque a auto-estima do empregado, a confiança em seu trabalho e sua competência. Esse passa a acreditar que é o causador dos problemas, que executa um péssimo trabalho, sem serventia a qualquer um. Algumas vezes sente-se perseguido e isolado. É comum o empregado assediado pedir demissão, aposentar-se, afastar-se para tratamento por problemas psicológicos, psiquiátricos ou lançar-se às drogas. A depressão é apenas uma das conseqüências do assédio moral ambiental.
-
Se o assédio tornar insuportável a continuidade da relação de emprego, o trabalhador (no caso, o professor) poderá aplicar justa causa no patrão (art. 483 da CLT) e romper o contrato. Também é possível propor ação trabalhista (Justiça do Trabalho) contra o empregador para pedir que cesse o assédio por ele praticado ou permitido e, se desejar, também pode postular o pagamento de uma indenização por danos morais, com base no artigo 5º, V e X da Constituição Federal e artigos 186, 927 do Código Civil. Nestes casos, cabe ao Judiciário impor gravosas penalidades e robustas indenizações para inibir e punir o assediador.
-
O empregador coloca em xeque a auto-estima do empregado e sua competição.
-
artigo publicado em 21/9/2009 no Jornal do Brasil


"Todo mundo 'pensando' em deixar um planeta melhor para nossos filhos... Quando é que 'pensarão' em deixar filhos melhores para o nosso planeta?".

Encaminhado pela Profª Ana Elusa