31 agosto 2008

ENSINO DE MÚSICA PROVOCA INCERTEZAS

Notícia disponibilizada no Portal www.cmconsultoria.com.br às 09:20 hs.30/08/2008

PREOCUPAÇÃO DOS EDUCADORES RECAI SOBRE OS REFLEXOS PRÁTICOS DA MEDIDA SCHWINGEL e Ingrid: boa intenção da nova lei federal pode esbarrar nas deficiências do sistema público de educação Francine Schwengber francine@gazetadosul.com.br


Euforia e medo. Estes foram os sentimentos manifestados pelos professores da rede municipal de Venâncio Aires diante da lei que torna obrigatório o ensino de música em todas as escolas do País. O primeiro vem acompanhado da sensação de alívio de quem, agora, vive o reconhecimento do objeto de estudo. O segundo surge da realidade do ensino público, tanto em esfera nacional quanto municipal.


Na rede particular de educação, por sua vez, o conteúdo de música existe e se mantém graças a incentivos constantes para a qualificação das aulas e dos profissionais. Para o professor de música Ádrio Schwingel, a boa intenção pode esbarrar nas deficiências do sistema público de educação. “Professores mal remunerados e falta de recursos para as escolas resultam em descrédito na nova lei”, afirmou.


Ingrid Knak, que tem formação musical e também em Educação Artística, concorda com seu colega de trabalho. Segundo ela, que teve aula de canto na época de escola, o aprendiz da música deve possuir os equipamentos e o local adequados ao ensino. “Somente assim os alunos poderão usufruir das aulas e desenvolver suas habilidades e competências”, disse.


No aguardo das decisões em nível municipal, os professores ativos estão em consonância com aqueles que já se aposentaram. É o caso de Lia Pochmann, aposentada há 15 anos mas ainda atuante na comunidade musical. Para ela, o povo que aprende artes aprende a pensar. “E quem pensa age diferente. A pessoa que se envolve com a musicalidade consegue trabalhar o seu interior”, frisou. Estudar e conviver com a música só traz benefícios, conforme Lia. No entanto, o desfecho da lei a preocupa: “Não sabemos a dimensão que o assunto vai tomar e de que forma será incorporado no currículo escolar, mas quero manter-me otimista”, afirmou.


O desafio que surge com a Lei nº 11.769 – em vigor desde o dia 18 de agosto de 2008 quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou projeto de lei de autoria da senadora Roseana Sarney (PMDB-MA) – é a formação de professores. Segundo os dados mais recentes do Censo da Educação Superior, de 2006, o Brasil tem 42 cursos de licenciatura em música, que oferecem 1.641 vagas. Em 2006, 327 alunos formaram-se em música. A lei não prevê, no entanto, a formação específica na área para os professores.


ADAPTAÇÃO - De acordo com a normatização – que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –, o ensino de música torna-se conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, da área de artes em todas as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio. Os educandários públicos e particulares terão de acrescentar, no prazo de três anos, o conteúdo na grade curricular. Conforme o Ministério da Educação (MEC), até 2011, uma nova política definirá em quais séries da educação básica a música será incluída e em que freqüência. O MEC é favorável à proposta, seguindo as orientações curriculares para a educação básica. A Secretaria de Educação de Venâncio Aires concorda com o Ministério da Educação, embora ainda desconheça a forma de implantação do conteúdo nos 47 educandários da rede. Segundo o setor pedagógico do órgão, os profissionais precisam dialogar e estudar com afinco a matéria antes de responder qualquer questão. O Conselho Municipal de Educação deve ser chamado nos próximos dias para dar início ao debate e delinear os rumos do ensino de música no município. Venâncio possui o sistema municipal de educação, o que lhe dá autonomia sobre o Estado para gerir decisões federais. Conforme a coordenadora-geral de Programas de Apoio à Formação e Capacitação Docente de Educação Básica no MEC, Helena de Freitas, o objetivo não é formar músicos, mas oferecer uma formação integral para as crianças e a juventude. “O ideal é articular a música com as outras dimensões da formação artística e estética”, afirma. O ministério recomenda que, além das noções básicas de música, dos cantos cívicos nacionais e dos sons de instrumentos de orquestra, os alunos aprendam cantos, ritmos, danças e sons de instrumentos regionais e folclóricos para, assim, conhecer a diversidade cultural do País.


ANOS MUSICAIS - O ensino de música nas escolas brasileiras iniciou-se no século 19. A aprendizagem era baseada nos elementos técnico-musicais e realizada, por exemplo, por meio do solfejo. No fim da década de 1930, no entanto, Antônio Sá Pereira e Liddy Chiaffarelli Mignone buscaram inovações. Sá Pereira defendia a aprendizagem pela própria experiência com a música; Chiaffarelli propunha jogos musicais e corporais e o uso de instrumentos de percussão.Naquela época, Heitor Villa-Lobos (1887-1959) ganhava destaque. Em 1927, três anos depois de conviver com o meio artístico parisiense, ele voltou ao País e apresentou, em São Paulo, um plano de educação musical. Em 1931, o maestro organizou uma concentração orfeônica chamada Exortação Cívica, com 12 mil vozes. Após dois anos, assumiu a direção da Superintendência de Educação Musical e Artística, quando a maioria de suas composições se voltou para a educação musical. Em 1932, o presidente Getúlio Vargas tornou obrigatório o ensino de canto nas escolas e criou o curso de pedagogia de música e canto.Em 1960, projeto de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro para a Universidade de Brasília (UnB) deu novo impulso ao ensino da música, com a valorização da experimentação. A idéia era preservar “a inocência criativa das crianças”. Duas décadas depois, a criação da Associação Brasileira de Educação Musical e da Associação Brasileira de Pesquisa e Pós-Graduação em Artes Cênicas (Abrace) contribuiu para a formação de professores no ensino das linguagens artísticas em várias universidades. No ensino de música, a experiência direta e a criação são enfatizadas no processo pedagógico.Na década de 1990, o ensino de artes passou a contemplar as diferenças de raça, etnia, religião, classe social, gênero, opções sexuais e o olhar mais sistemático sobre outras culturas. O ensino passou a ter valores estéticos mais democráticos.Atualmente, a aprendizagem musical deve fazer sentido para o aluno. O ensino deve se dar a partir do contexto musical e da região na qual a escola está situada, não a partir de estruturas isoladas. Assim, busca-se compreender o motivo da criação e do consumo das diferentes expressões musicais.


Fonte: Ministério da EducaçãoFonte: Gazeta do Sul

2 comentários:

  1. Bom dia, Paulo
    Se pensarmos bem, em face a este quadro, não seria interessnte que as comunidades assumissem a gestão da escola.

    Este sistema deu o que tinha de dar. O que vemos e burocratismo e penadas, como se isso resolvesse algo.

    Um abraço

    Evandro Castilho

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  2. Evandro,

    Primeiramente, peço desculpas pela demora na resposta, mas imaginei que o sistema publicasse os comentários automaticamente na página do blog, o que não acontece. Hoje, reparando melhor, vi seu comentário...

    Olha, em meio às burocracias de plantão, existem pessoas, umas mais dedicadas, outras menos. Para formar um corpo realmente atuante, na minha opinião, é necessário superar as ondas culturais que nos levam e as normas sistemáticas que se postam como avisos: "proibido ultrapassagem". Quer dizer, o que é certo, é certo, e essa atitude, essa postura, este envolvimento, é que realmente legitimará nossa ação, e mais: agindo assim, gera-se a articulação perdida e a efetivação de ações contra-culturais, reformadoras, mas, mais do que tudo, legítimas.

    Tenho um amigo músico que desenvolveu belíssimo projeto de cordas, inclusive, conseguindo aos alunos, alguns instrumentos para laboratório. Muito competente e conhecido na cidade, logo iniciou o trabalho, mas não vingou! Sabe por que? Porque, simplesmente, a escola não comportava este tipo de projeto, ou seja, ou os alunos tocavam e paravam a escola para ouvir, ou os jovens estudavam de maneira convencional e não tocavam nem assistiam aula de música. A estrutura da escola não possibilita experiências acústicas em horário de aula, entendeu?

    Pessoalmente, não vi esta experiência do nosso amigo, mas soube que logo a direção desculpou-se e encerrou o trabalho bem no começo.

    Atualmente, leciono em uma escola do município, que é a maior de todas em São Vicente. A própria prefeitura iniciou um trabalho de capoeira, que era um sucesso e os garotos, principalmente, compareciam em peso. Meu... simplesmente não dava pra dar aula e a gente resava pra acabar aquele batuqaue. Uma pena!

    Mas veja, só de existir a possibilidade amparada em lei, já nos motiva a trabalhar projetos que se encaixem na realidade das estruturas. Por isso eu afirmei que envolvimento é um ato de superação, pois com essa postura, logo encontraremos maneiras que mesmo as burocracias e políticas decadentes, não serão capazes de limitar.

    Não tem jeito! Não esperemos que uma meia dúzia de administradores e politiqueiros burocratas nos dêem a solução de mão beijada... Meu, eu nem quero isso! Prefiro o sabor da conquista, pq o que queremos, temos que conquistar, não cai do céu... E quer saber? Sempre foi assim na história da humanidade.

    Aquele abraço e boa sorte em 2009!

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