Paulo
S. Teixeira
Parece aquela historinha dos quintos
dos infernos, da louca da Carlota. Pois
olha, eu aqui pensando que isso é coisa do passado, que já foi tudo superado e
que isso não me diz mais respeito......
Caramba!! – afinal a gente pagou ou não essa porra do Quinto??? Creio que alguém está trabalhando dia e noite
para nos fazer crer que não, e mais: “que nós, brasileiros, é que devemos pagar
a conta”. Mas que conta mesmo, hein???
Nosso pai trabalhou a vida inteira não
como um mouro, mas como um verdadeiro camelo.
Até onde pude sentir nas conversas de minha infância e no que observei,
parece que o sonho de nosso pai, era estudar, ele gostava disso; apenas com o
antigo primário, dominava vários assuntos, tinha um significativo conhecimento
de muitas coisas, era uma cultura consideravelmente vasta, mas era um cara
simples, muito simples mesmo, e educado.
Ele e seus dois irmãos perderam o pai quando ele mesmo, o mais velho, nem havia completado a idade para servir o exército. Por isso mesmo, não serviu, pois naquele tempo, o mais velho tinha a obrigação de cuidar da mãe e dos irmãos; isso era lei e era um costume tradicional entre as antigas famílias.
Pois bem, assim o fez: seus irmãos
estudaram o básico inteiro, sendo que um deles, o do meio, chegou a fazer
técnico em contabilidade – algo raro naquela 1ª metade do século XX. Nossa avó, D. Emília, como sempre o fez, foi
até não poder mais trabalhando no que sabia fazer: cultivava uma horta para
vender aos vizinhos; criava coelhos e os matava para um jantar mais especial de
alguém que pudesse pagar e lavava roupas para fora. Aos 60 anos D. Emília parecia uma velhinha de
90 dos dias atuais – gente sofrida mesmo.
Nosso pai, filho de portugueses do
tipo “pé rachado” carregou uma labuta não de muita sorte: já casado, ainda
morando na propriedade da família paterna, conseguiu comprar umas máquinas,
caras para a época, tais como serradeiras, lixadeiras, polideiras etc. – montou
uma tamancaria. É que naquele tempo,
tanto em São Vicente como em muitas ruas de Santos, que era tudo lama, além das
mulheres os homens também costumavam usar tamancos e os negócios iam bem. Meu pai contava que na época, muita gente
descia a Serra e baixava nas imediações do bairro do Catiapoã, em São Vicente,
ou mais precisamente: na “Vila Sorocabana” a uns 200 metros da tamancaria dele
(justamente onde conheceu minha mãe).
Dizia também que muitos jovens começavam por ali, pedindo trabalho
avulso para começar a vida: riscadores, pregadores, coladores, pintores de
tamanco, vendedores e tudo mais.
Ele mesmo ainda chegou a me dizer por
umas 2 ou 3 vezes que quando os chinelos “Havaianas” entrou no mercado, todas
as tamancarias da região sofreram um baque muito forte. Ele aguentou até não mais poder, quando
finalmente, dispensou os funcionários mais antigos e os horistas e foi
trabalhar de cobrador de ônibus na antiga Viação da Sorocabana. Neste tempo, já tinha três filhos e eu nem
sei se pensava estar por aí.
Trabalhou um tempo na Viação, isso
também o tornou muito conhecido nas cidades do nosso entorno. Não tardou e conseguiu um emprego de gerente
de móveis planejados na antiga loja de departamentos “Seears” (móveis
planejados em Santos era um capricho que poucos podiam pagar, mas sua
experiência de tamanqueiro, ofereceu a intimidade necessária para vender bons
trabalhos).
Assim, nosso pai, sozinho, desde a
década de 1970, mantinha uma família de 7 pessoas (com alguma ajuda de nossa
avó materna, que morava com a gente).
Cuidou de todos nós, foi realmente competente. Ele conversava, orientava pacientemente,
passeava com a gente, cultivava uma boa biblioteca em casa para os filhos,
trazia presente como HQ’s raros e brinquedos originais, incentivava a leitura,
as artes, certas engenhocas, o estudo de nós todos, e inclusive, manjava de uns
paranauê...... Quando lembro, costumo
dizer que sempre fomos realmente pobres, mas nunca, nunca fomos miseráveis como
se vê vergonhosamente nas quebradas hoje em dia. Uma vergonha!!........
Depois de uma vida inteira camelando,
aposentou com 53 anos ao mesmo tempo que contraiu uma leocemia, sentiu a
separação de toda família num casamento de 26 anos, e, após um ano de
aposentadoria, em 1986 veio a falecer.
Depois disso, minha vida e de alguns
dos meus irmãos, foi só porrada. Todos
prontos para continuar os estudos, mas toda expectativa morreu junto com o
velho. Confesso que quase explodi, e com
uma ajudinha aqui, outra ali, como todos os demais, fui superando.......
Pessoalmente, trabalhei por décadas
como um escravo, mas não posso negar que aprendi muito, a vida foi ensinando
suas duras e contínuas lições. Com mais
ajuda, consegui estudar, e jogado ora pra lá, ora pra cá, me formei professor,
de história. Resumindo: “Assim como meu
pai, logicamente seguindo meu próprio caminho e construindo minha própria
história, virei outro camelo”.
Saí da faculdade em dezembro de
2004. Em fevereiro de 2005, comecei a
lecionar sem nunca ter parado e hoje já contam 17 escolas no meu
currículo. Muita guerra, muita briga,
bem assim como a Educação pública urge precisar. Há cerca de 2 anos, em 2014, já de olho nas
notícias de golpes e esforços de contra-golpes, fui percebendo e também
avisado, do que se articulava de forma muito meticulosa contra o projeto que se
fazia em prol do país. Em minha esfera
local, foram ataques que iam de afrontas e trapaças; havia quadrilhas com
comparsas espalhados em todos os cantos para articular o golpe que se efetivou
em 2016 e por agora continua a nos desafiar.
Foram tantos, como estão também ainda sendo, que mal deu condições
necessárias de análise a fim de se montar o quebra-cabeças. De qualquer forma, hoje o mapa já está quase
todo desenhado e popularmente conhecido.
Nestes micro-processos difusos, uma
amiga do círculo começou a nos instigar: “pense fora da caixinha”. Não esqueci isso e tenho trazido este
“olhar”, que nada mais é do que um ângulo externo de análise para enxergar o
quebra-cabeças que de muito perto nos é incompreensível, pois a imagem é
descomunal. Porém, vendo de longe, assim
“de fora da caixinha”, a gente é capaz de perceber, por exemplo, que a “vida
complicada” é uma ideia forjada e com o único intuito de nos tornar cegos à
verdade.
Então, a nação brasileira, com seus
8.516.000 km² e sua população com pouco mais de 200
milhões de habitantes, que não é um país de guerras centenárias instituídas e
nem um território gelado como a Patagônia ou de areia escaldantes como o Saara;
com títulos de “pulmão do mundo”, “celeiro do mundo”, a “maior biodiversidade
do mundo”, o “maior reservatório potável do mundo” o maior sei lá o quê, o
melhor em sei lá o quê........ Pois
bem!! – “eu que tive um pai camelando pra vencer e fazer a família vencer; eu
que trabalho desde os 15 anos sem parar, tal qual um camelo; que estudei, dei o
melhor de mim, assim como até hoje o faço com muito gosto; eu que me dôo a cada
dia o mais que posso; que me esforço em estar em paz com minha própria
consciência; que sempre fui bom pagador – veja: eu fui despejado ‘devendo’ R$
13.000,00, deixando a conta para uma amiga (que acho que perdi, sei lá); ÔRRAZ
– EU TÔ DEVENDO O QUÊ, CARAI???” – e quantos???
Quantos estão “devendo” alguma coisa neste país que vive eternamente
pagando os quintos dos infernos??? Tô
cansado de brincar disso, sabe.......
Não tenho a menor dúvida: “A CONTA ESTÁ TODA ERRADA” – o momento é de
cobrar, nem que seja no grito........
Um pais dessas proporções, que nem de
longe tem só vagabundos como gostam tanto de propagar muitos incautos que
pensam que são italianos, mas não são; portugueses, mas não são; japoneses, mas
não são; ingleses, mas não são; libaneses, turcos, mas não são – mas que
também, “nem são brasileiros”, porque pensam que são melhores, porque são
brancos, porque têm uma cultura europeia, porque não são nem convivem
diretamente com índios, ora o que são???
São estúpidos que nem sequer se identificam com a própria nação a que
pertencem....... Estúpidos porque nunca
pararam pra perceber que toda essa riqueza poderia nos garantir com sobra,
moradia, vestimenta, comida, saúde, educação, cultura – não precisaria faltar
nada a ninguém, e fazem o papel do contra, como se fossem melhores (propres)........ Estúpidos porque são egoístas, que negam a
todos que construíram e constroem suas moradias, seus serviços de luxo, seus
caprichos banais como se tudo estivesse bem, pois para essa meia-dúzia de
privilegiados, nada lhes falta.......
São tão estúpidos que não têm a coragem de assumir-se brasileiros e,
menos ainda, falar abertamente que não vivem na Itália, no Japão, na Alemanha,
no Canadá, nos EUA, simplesmente porque lá não morariam em casa; acham esses
lugares mundos superiores, mas não falam a ninguém que tentaram, mas lá seus
vistos foram recusados....... Que nestes
lugares, tendo dinheiro, abrem-lhes até tapete vermelho, mas não o tendo, são
mesmo estrangeiros amaldiçoados, fadados a servir cerveja nos bares, cafezinhos
na universidade, limpando vidros dos arranhaceis, lavando privada...... Seriam menos do que estrangeiros, e digo amaldiçoados
mesmo, por serem vistos como desertores de um país que necessita urgente de
ética, de força, de trabalho, de coragem, de amor, de afeto, de sensibilidade, de
gente........ “Ora” – devem pensar os
lojistas às madames que compram nas lojas de Nova Yorque: “o que estes
desertores que pagam de bacana traindo sua própria gente fariam de bom aqui
entre nós???”. Este time pó-de-arroz
deveria ter um mínimo de caráter pra não voltar às arquibancadas nas
olimpíadas, tamanha vergonha pra gringo ver: todo mundo branquinho, gordinho,
engomadinho. Haha – “logo no Rio de
Janeiro”, que mais da metade da população é negão....... Estúpidos!!
Mas fora da caixinha é isso: conseguir
perceber que toda a cultura deste sistema financeiro desenvolvido e regulado
para manter o gado sob controle, só tem uma utilidade: “OFERECER A OPORTUNIDADE
DE QUEBRAR AS PORRAS DAS CORRENTES DE UMA VEZ”.
Então, concidadãos brasileiros: “quando a porra da banda passar na tua
porta, nem pergunte nada....... desça de
uma vez e vamo junto”.
Coragem!! – ninguém está sozinho, e o
gosto da justa liberdade é mais apetitosa degustar em família.
#SomosTodos - Santos/SP
– 22MAR2017